segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

domingo, 20 de dezembro de 2009

O Primeiro Natal em Portugal

É véspera de Natal. Mas não para Irina. Para ela só será Natal a 7 de Janeiro, quando as aulas tiverem recomeçado.
A mãe aproveita umas horas extra, na pastelaria, para preparar fornadas de bolos-reis.
O pai, antes de sair, marcou-lhe páginas e páginas de trabalhos de casa. É preciso, para poder acompanhar os colegas,
Folheando o dicionário, a pequena ucraniana procura as palavras portuguesas que há-de escrever em frente das que tão bem conhece.
ОЛiВЕДЬ — lápis
ЗОШИТ — caderno
КИГА — livro
ШКОЛА — escola
Tudo diferente! Até o abecedário... Na escola, os outros fazem pouco dela e chamam-lhe “língua de trapos”. Que quererá isso dizer?
Vai à página 190, logo em seguida à 293. Era de calcular...
Tem, no entanto, orgulho em ser a melhor a matemática. Ninguém a bate em contas. Quando a professora entrega os testes e lhe dá vinte, há sempre um grupinho irritado que, no recreio seguinte, se junta, numa roda, à sua volta, cantarolando:

Irina, Irina, Irina,
Que menina tão fina!
Tem cara cor de sal,
Olhos cor de piscina.
Cabelos cor de margarina.
Ai, doem-te as saudades?
Vai tomar aspirina.

Na Ucrânia deixou tantos amigos...

Evita aqueles olhos escuros que se fixam nela, uns curiosos, outros trocistas, outros indiferentes.
Sente-se como uma extraterrestre. Porque é que os pais a mandaram vir?
Isola-se no recreio, a um canto, tentando desvendar a algaraviada das conversas. Às vezes, o Afonso murmura-lhe ao ouvido um segredo:
— Pareces uma fada!
E foge logo a correr.
Que palavrão será “fada”? Nem vale a pena procurar no dicionário. Algumas palavras que lhe dizem nem sequer lá vêm. A princípio ainda perguntou à mulher da limpeza o que significavam mas ela empurrou-a com a esfregona.
— Ordinária! Estes imigrantes mal sabem falar mas fixam logo a porcaria... Porque não voltam para o sítio de onde vieram?
Com lágrimas nos olhos, Irina vai agora à janela e vê as luzinhas acender e apagar nas árvores despidas. Por trás das paredes deslavadas das velhas casas, decerto se celebra a consoada. Como será?
Doze pratos se punham na mesa de festa no Natal da sua terra. Uma em memória de cada apóstolo.
É Natal em Portugal. Que interessa? A família está dispersa. A mãe a fazer bolos-reis que não vai provar porque para os ortodoxos é tempo de sacrifício e jejum. O pai lá anda, na construção civil. Como mais ninguém queria trabalhar na noite de 24, foi, sozinho, pintar um café que está a ser remodelado, ao fundo da rua. Os dois irmãos mais novos ficaram em Priluki, lá longe, com a avó.
Irina aquece a sopa e arranja uma sandes de queijo. Como pesa o silêncio!
De repente, sente um grito abafado no andar de cima. Algum assalto? Alguém que caiu? Não sentiu passos nem o baque de uma queda...
Com o coração a bater, põe-se a espreitar pelo óculo. Nada!
— Acudam! Acudam!
Mais ninguém se encontra no prédio. As lojas do rés-do-chão estão fechadas, os vizinhos do primeiro andar foram de férias. Por cima, na mansarda, mora uma rapariga nova, gorda, pálida.
Irina abalança-se a subir. A porta encontra-se apenas encostada e a miúda entra, a medo. Já ninguém grita. Um gemido fraco ecoa ao fundo do corredor.
Haverá feridos? Tem horror ao sangue. Por um momento, pensa em voltar para trás. Mas prossegue, pé ante pé, até ao quarto.
Deitada na cama, a moça, que ela conhece de vista, geme, agarrada à barriga enorme. Irina aproxima-se, repara que está alagada em suor.
— Ladrão atacar tu? Estar doente?
Tremendo, a outra responde:
— Chama o 112. O bebé vai nascer.
Que será o 112? Estará ela a delirar? Quase desfalece.
Então Irina precipita-se pela escada abaixo. A rua encontra-se deserta. Não conhece ninguém nas redondezas. Corre até ao café onde o pai está a pintar paredes.
— Pai, pai! — grita ela.
Anton desce do escadote, pousa o rolo, inquieto ao ver a filha naquela aflição.
— Que foi? Aconteceu alguma desgraça?
Mal sabe o que se passa, marca um número no telemóvel, dá a morada, pede urgência. Segue-a em passo apressado. Sobre eles desaba uma chuva gelada. Ficam com os cabelos a escorrer, encharcam os sapatos nas poças que, num instante, se formam.
Chegados ao prédio, o ucraniano galga os degraus dois a dois, entra sozinho no quarto da vizinha. A filha fica à espera.
— Irina, ferve uma panela de água. Traz-me um frasco de álcool, uma tesoura, toalhas.
A miúda obedece, confusa.
— Traz-me roupa lavada, para me mudar!
O pintor despe o fato-macaco, sujo de tinta e de pó, na casa de banho, enfia uma camisa branca, umas calças desbotadas. Esfrega as mãos e a tesoura com álcool.
— Irina, a água já ferve?
De novo no quarto, fala pausadamente com a rapariga, em voz alta. Ouve-se tudo cá fora.
— Força! Coragem! Está quase...
De súbito ouve-se o choro de um bebé.
— Entra, Irina — diz, pouco depois, o pai. — Vem ajudar. Já és crescida.
Entrega-lhe o recém-nascido.
A rapariga, na cama desalinhada, sorri.
— Embrulha-o num xailinho. Está na gaveta do meio.
Irina aconchega aquele corpo tão pequenino e frágil. Embala-o devagarinho, como fazia com as bonecas. Uma minúscula mãozinha aperta então o seu polegar.
O alarme de uma ambulância apita. Pára à entrada do edifício. Duas enfermeiras precipitam-se pela porta dentro.
— Então, viram-se atrapalhados? Um parto faz sempre confusão, principalmente aos homens.
— Sou médico — confessa o ucraniano. — Mas, em Portugal, ando nas obras...
As enfermeiras cruzam um olhar subitamente triste. Examinam a criança.
— O bebé nasceu no dia de Natal. É o nosso Menino Jesus.
A mãe olha para o homem e pergunta:
— Como é que o doutor se chama?
— Anton.
— António? Quer ser o padrinho? Vou pôr-lhe o seu nome.
As enfermeiras levam a rapariga e o bebé para a ambulância.
— Vão dar um passeio até à maternidade. Estão ambos óptimos.
— Manhã nós visitar! — exclama a garota.
Já passa da meia-noite. Pai e filha descem até ao patamar do primeiro andar. Na escada nunca há luz. Felizmente a gente do 112 usa lanternas... Mas, logo que o pessoal da ambulância se afasta, a escuridão instala-se. Às apalpadelas, o pai mete a chave na fechadura. Tropeça num embrulho.
— Que será? — espanta-se ele. — Esta é uma noite de surpresas.
Sobre o tapete de cairo está um embrulho enfeitado com um laçarote cor-de-rosa. Traz um bilhete preso com fita-cola.
Para uma fada loura.
com amizade
A menina abre-o. É um conjunto de canetas de ponta de feltro.
— O Pai Natal português não se esqueceu de ti — ri-se o médico.
— O Afonso é a única pessoa que me trata por fada — replica a Irina, um bocadinho corada.
Corre para o dicionário, passando as páginas até à número 159 e exclama, radiante:
OЗНАКА — fada
Depois, pega numa folha de papel e desenha, a amarelo, uma estrela a brilhar, a brilhar, a brilhar.

Luísa Ducla Soares
Há sempre uma estrela no Natal
Porto, Civilização Editora, 2006

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Declaração Universal dos Direitos do Homem

Comemoramos mais um ano da Declaração Universal dos Direitos do Homem.
Este é o filme que criámos para te mostrar.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Dia Mundial dos Voluntários

Generosidade
"Sempre que ajudares alguém, procura passar despercebido.
Quanto menos te evidenciares, mais a tua ajuda terá valor."

A casa que o amor construiu

Esta história é verdadeira. Passou-se em França depois da Primeira Guerra Mundial, durante a qual uma aldeia inteira foi destruída pelos combates.

Marie acordou sobressaltada na escuridão cerrada e sentiu o cheiro familiar da sujidade. O seu pequeno corpo estremeceu com o frio húmido. Enquanto se levantava para arranjar a cama feita de trapos e de serapilheira no chão sujo, o pesadelo que lhe tinha abalado o sono pairava sobre ela como uma nuvem negra. Era todas as noites o mesmo pesadelo.
Começava sempre com um sonho agradável. Via a sua aldeia francesa muito amada. Depois via-se a sair da casa velha e aconchegante com a Mãe e a Avó e a passar pela rua estreita. Debaixo de quase todas as janelas, havia floreiras garridas cujas flores abanavam ao vento. O Sol resplandecia no campanário da igreja. Mas havia uma reverberação assustadora que vinha na direcção da aldeia: a reverberação das armas.
Marie estremeceu de novo, à medida que sentia que o sonho feliz se tornava um terrível pesadelo. Vinham-lhe à cabeça recordações assustadoras. Aterrorizadas, a Mãe e a Avó tinham-na arrastado para as árvores. Aí, deitaram-se por terra. Soldados de uniforme azul passavam em colunas. Armas! Lutas! Explosões e gritos! Fogo! Quando tudo acabou, a aldeia deixara de existir.
À medida que a guerra se afastava, Marie, a Mãe e a Avó vasculharam, em lágrimas, o cascalho em que a sua casa se transformara. A pequena família mudou-se para uma antiga cave. “Como toupeiras nos buracos do chão”, pensara Marie, com tristeza.
Enfiou-se nos trapos e voltou a cair num sono irregular. Os soldados continuavam a marchar na sua cabeça. Depois dos soldados franceses em uniformes azuis, tinham vindo os soldados alemães em uniformes verdes. Para alívio de todos, depressa se foram embora. Depois vieram os uniformes caqui dos americanos. Os americanos riam-se e entregavam moedas francesas aos miúdos ávidos. Mas, quando partiram, a aldeia continuou em ruínas.
Quando Marie acordou de novo, o Sol brilhava através das fendas nas tábuas velhas que serviam de tecto. Ao ouvir sons estranhos, sentou-se num ápice. Algo de diferente estava a passar-se naquela manhã. Perguntava-se que sons seriam aqueles.
— Mãe, será que os soldados voltaram? — perguntou ansiosamente.
— Não, minha querida. Vai lá acima ver quem chegou.
A Mãe parecia estranhamente contente. Marie atirou com os trapos e subiu os degraus periclitantes da cave. Viu de imediato que outros homens de uniforme cinzento tinham vindo para a aldeia.
— Oh, Mãe! — gritou excitada depois de os observar por algum tempo. — Os soldados trazem serras e martelos, em vez de armas. Estão a construir casas.
Marie pensou que eram soldados porque traziam uniformes. Mas não eram soldados. Eram trabalhadores britânicos e americanos.
Marie teve uma ideia súbita. Desceu os velhos degraus a correr e pegou numa meia velha onde estavam seis cêntimos franceses que os soldados americanos lhe tinham dado. Era o único dinheiro que a sua família tinha. Enquanto voltava a subir as escadas, um misto de esperança e ansiedade fazia-a tremer a cada degrau. Correu para o chefe dos homens vestidos de cinzento.
Timidamente, estendeu a meia e mostrou-lhe os seis cêntimos.
— O senhor pode construir-me uma casa por seis cêntimos?
O homem pareceu surpreendido e pediu-lhe para repetir a pergunta. Quando finalmente compreendeu, não se riu nem sorriu, mas respondeu muito seriamente:
— Bem, Menina, veremos o que se pode fazer.
Não disse “Sim”, mas também não disse “Não”. Marie montou guarda todos os dias para ver o que aconteceria. Uma por uma, foram--se construindo casas pequenas para outras pessoas. As casas eram pequenas e simples mas, para Marie, eram bonitas. Como ansiava por um chão de madeira limpo para varrer e um belo telhado de telhas vermelhas para impedir a chuva de entrar!
Será que se iriam embora sem construir uma casa para a família dela? Enquanto esperava e observava, a cave parecia-lhe mais escura e húmida do que nunca. Quando estava quase a desistir de esperar, Marie obteve a sua resposta. A resposta era “Sim”. A casa de Marie, tal como as outras, foi construída em apenas três dias. Para Marie, era a casa mais bela do mundo.
No dia em que acabaram de a construir, o chefe dos homens de cinzento entregou a chave da porta de entrada a Marie com muita cerimónia, dizendo: — Menina, a sua chave.
Marie pegou nela e abriu oficialmente a porta, enquanto a Mãe, a Avó e toda a aldeia a observavam.
Parou de repente, como se se recordasse de algo. Prometera-lhes os seis cêntimos pela casa, por isso, esta ainda não era propriedade sua.
Voltou rapidamente a descer os velhos degraus da cave e, quando voltou, dirigiu-se ao chefe dos homens de cinzento. Agora que estava acabada, a casa parecia grande e os seis cêntimos pareciam pouco. Mas era tudo o que ela tinha, e foi-os contando à medida que os colocava na mão do chefe.
Será que chegava? Quase nem se atrevia a olhar para o homem. Este sorriu-lhe e disse solenemente (em francês, claro):
— Obrigado, Menina, mas quatro cêntimos são suficientes.
E deu-lhe de volta dois cêntimos.
William W. Price
M. Clark; E. Briggs; C. Passmore
Lighting candles in the dark
Philadelphia, FGC,2001
Adaptação

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Dia Internacional da Abolição da Escravatura

O Negrinho do Pastoreio

Em tempos que já lá vão, havia um fazendeiro tão rico que para dar uma volta ao seu quintal demorava um dia a cavalgar. Esse fazendeiro era muito cruel e não desculpava uma falta. Se alguém faltasse por estar doente, castigava com o chicote homens, mulheres e até mesmo crianças. Negrinho, com pouca idade, também trabalhava para o fazendeiro. Levava os cavalos de manhã a pastar e só voltava ao anoitecer.
Certo dia, o capataz foi contar as cabeças dos cavalos e reparou que faltava o cavalo favorito do patrão. Negrinho ficou sem uma pinga de sangue e murmurou, muito aflito:
- E agora o que é que eu faço?
- Agora vais procurá-lo, senão arrependes-te!
Foram dizer ao patrão. Este, cheio de raiva, disse:
- Deixou fugir o meu cavalo favorito? Então vão chicoteá-lo até à morte e depois lancem o corpo ao formigueiro:.
As pessoas choraram e o capataz não queria fazer aquilo, porém , se não o fizesse, também seria castigado.
O Negrinho, à noite, foi procurar o cavalo, mas como estava muito escuro acendeu uma vela para se orientar. Como não via nada, começou a rezar:
- Minha Nossa Senhora, valei-me!
Então, um milagre aconteceu! Cada gota de cera que caía no chão transformava-se num rasto de luz. Negrinho seguiu esse rasto e viu ao longe o pêlo a brilhar do fugitivo.
No regresso à cocheira, o patrão insistiu para que o matassem, mesmo depois de ter encontrado o cavalo. No dia seguinte, foi ver ao formigueiro o corpo para ver se lhe tinham obedecido, porque para ele aquilo era um espectáculo. Quando olhou para Negrinho e o viu em pé, sem marca de chicotada e, reparando que do seu corpo saía uma luz intensa, o patrão recuou. Negrinho pôs-se em cima do cavalo e desapareceu no meio da planície.
Esta história continua de boca em boca. E, ainda hoje, em noite de lua cheia, pode ver-se Negrinho a cavalgar sobre as estrelas. Quando alguém perde alguma coisa, basta dizer:
- Valha-me Negrinho do Pastoreio! Leve esta vela e ache-me o que eu perdi!

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

É feriado, mas temos que recordar...

Para muitos, o dia 1 de Dezembro está, apenas, ligado, à comemoração do Dia da Restauração da Independência, contudo, hoje é também o dia de lembrar todos aqueles que são vítimas da SIDA.

Dia da Restauração da Independência

Clica aqui, para saberes porque se comemora este dia.


Dia Mundial da Luta Contra a Sida



Este trabalho, realizado por colegas teus numa outra escola, mostra o que se vivia há um ano atrás. Consegues imaginar o que se vive hoje?